Miro minha face psicografada ao reflexo do espelho. Não gosto do que vejo. Ninguém gosta. Minha barba mal feita, meus medos expostos na cara, meu sorriso amarelado escancarado na boca, e meus olhos caídos e enferrujados abaixo de minha testa. Se nem eu gosto, quem vai gostar? Olha pra mim mãe! Olha pra mim e tenta achar na minha cara algum rastro de juventude. Repara na dureza do meu cenho. Repara! Vê em mim as deformações precoces? A fatalidade dos dias descarregada de uma vez sobre minha pele, meus músculos, meus ombros. Meus ombros: olha os meus ombros! A senhora não deve notar, mas cá está o peso de todos estes anos. O peso desta casa, deste ar, destas vidas. Das suas vidas. Não me vira a cara, mãe: Escuta! Quando o pai resolveu ir, ele levou consigo o pouco que eu tinha de meu: o brilho dos meus olhos! Percebe que ele não está mais aqui? Pois é, já faz um tempo que até ele me abandonou. E é por isso que eu tenho de partir, porque o que não me faz bem, não me faz nada.

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