Libido


No seu bastardo jeito incalculável de se entregar. É de admirável a maneira de como persegue suas presas e as ataca. É de admirar esse seu jeito meio golpista de conseguir as coisas. Exerce muito bem o seu exercício. Um jogo sedutor de cintura. Lábios vermelhos carne e uma roupa esbanjando classe extraordinário. Quando deixei as digitais dos meus olhos sobre você, nem sequer pensei que um dia poderia me incriminar. Quando olhei para você, não me passou na cabeça que poderia ser tão sofrido. É o pior dos vícios. O melhor dos venenos. É a perturbação dos meus sonhos nas noites geladas. É a insônia que me agita sobre o lençol. É o quente da minha alma. Paladar para meus olhos. Batimentos para meu corpo. Mas cansei. Sempre me canso. Cansei de suar minhas mãos e o resto do meu corpo. De desejar ardentemente seu líbido e suco orgástico. Cansei de apimentar nossa relação que nunca existiu. Cansei de te amar, e você não me olhar. E esperar um dia me envenenar. Mas cansei principalmente, de fingir que está tudo bem, sendo que não está. Você não chega nem aos pés da imperfeição. E nem aos calcanhares da perfeição.

Quando eu era seu homem


As pessoas se preparam porque a luz vai chegando. Apenas onde você for eu estarei lá. Mesmo que em forma de lágrimas salgadas e beijos doces. Estarei em casa que é dentro de você. E tudo que não pára nesse ambiente bucólico, atmosfera de boas vindas e péssimas idas. Natureza que apesar de viva aparenta o fúnebre amor escuro. Às vezes a ausência de luz é necessária. Para pelo menos fecharmos os olhos e pensarmos em quem pensa em nós. Você se foi sem explicar. Sem ao menos se despedir. Está tudo nas cicatrizes que trago no coração. Mais uma vez. Menos duas vezes. Nosso amor retorcido. Meu amor torcido. Mesmo que há 92 milhões de milhas, as pessoas se preparam porque lá está a luz. Lá vem a luz. No horizonte. Na casa. Em você e em mim.  É hora de viver o não mais você. Mas agora já é hora de dormir. 

Penso logo insisto, desisto.


Prefiro ficar aqui. Olhando. Diante da correria dos momentos tão momentâneos que vivi, a percepção me proporcionou olhares de lua e fingimentos cósmicos ínfimos, dignos de condecorações de parede. Disfarço o que era para se demonstrar. É assustador a situação em que vivemos e assim nos tornar humanos.O magno instrumento grego antigo diz que quando chegares aqui, amaremos o próprio olhar, acariciaremos nossa barriga majestosa cheia de restos que faltam para outros pobres mortais. Quando se pensa na condição humana e sua raça, sua existência e para onde iremos, a consulta dos astros, dos poderes sobrenaturais faz do eu, um grão de areia debaixo das unhas dos deuses. E a única certeza é que irei morrer, assim como qualquer outro composto de carne, osso e curvas de inteligência. E novamente prefiro ficar aqui me olhando diante o espelho. Esperar eu encarar o espelho. Esperar o espelho me encarar.