Cargas opostas


Um amor suburbano. Ligado por um emaranhado de fios pendurados, expectativas absurdas e um gato de problemas. Sustentar e enfiar energia por cabos de aço que não passavam de desafetos conjugais. E os cabo de aço não passavam de carne. E de todos aqueles fios desencapados, bombas injetoras de ar, poeira sobre tudo, e o aspecto de uma cidade antiga. Provavelmente patrimônio cultural que não passa de cacos, e pedaços de parede cheias de mofos e caindo os pedaços. Cargas opostas se atraem apenas na química. E talvez nessa bagaça de embolados fios entrelaçados pelo chão. E depois de tudo, sobre tudo. De tanta carga junta e conjunta, o cheiro de queimado se exala com ajuda do vento. Tudo se espalha, e o odor minucioso toma conta de toda parte da casa. Uma possível queda de energia sem previsão de voltar como era antes. Aceso e claro. Diferente do que é agora. Apagado e escuro. Eu nunca a entendi. E não foi por falta de esforços.

Uma fatalidade



O favor que meu corpo pedia a tanto tempo. Deplorável razão em que meu coração não acatava em pedir. Os rascunhos que deixei. O café quente. A flor sobre o livro. O sorriso sobre o rosto. O mesmo rascunho que você pediu, embolou e deixou por ali mesmo. O mesmo café que você pediu quente, esperou esfriar. A flor que você não pediu, um relance para que se surpreendesse diante minhas proezas amorosas não adiantaram. A flor secou. O mesmo sorriso sobre o rosto facilitando uma noite de prazer, ou um poço de sedução que almejava sua carne sobre a minha. Humilhação ponderante. Amor platônico. Uma fatalidade.

Raspas e restos



Dava pra ser diferente. Era pra ser diferente. Mas você escolheu, e se decidiu. Sempre fui independente demais. Auto suficiência cardíaca. Mas nesse momento as coisas se escureceram e se contorceram. Não sei o que quero mais. Não sei o que procuro. Nem minhas palavras se encaixam. Ou encaixam até demais. Decifrei o indecifrável. Senti o insensível. Toquei o intocável. Me deparei com você. Entre o certo e o errado, não escolha o que te fará feliz. Escolher o que é melhor pra você. Nem sempre o que te deixa feliz é o melhor. Nem sempre o melhor te deixará feliz. Hoje estou aqui. Amanhã não sei.

Overdose


E de trejeitos ostento meu destino e escrevo em linhas tortas meu possível futuro ainda inalcançado. Me machuco ao ver tanta lentidão nesse fluxo que não levará ninguém a lugar nenhuma. Menosprezo os maiores. Me embebedo de tantas precauções tomadas e novamente vejo não levar a lugar nenhum. E de tanto prazer de me dividir e subtrair aos cantos, peguei desprevenido meu próprio corpo. Numa frenética dança diferente, onde os planos e alturas levaram-me a consagração da alma, onde os molejos e sacodes se desvariaram na minha pele. E na dança com o espelho, dançava eu comigo mesmo nessa overdose de amor. Nessa overdose de nada. 

Pouco



Observo enquanto percebo o luxo fixador que habita em seus olhos. Um corpo singelamente perfeito, em que poderia um dia quem sabe, se render a mim, e a todo resto de corpo que eu ainda sustento. E que no seu andar, é notável a sedução imposta por suas pernas. Passos sobre passos. Na bateria de vento que lhe toca, e levanta seus cabelos pretos devagar, enquanto o meu queixo cai, vagarosamente. Me vejo bobo, imóvel e abismado. E era em quem pensava que a seu personalidade se tornara insuportável. As aparências enganam. As pessoas enganam. Eu sempre engano. Diante de você, me sinto pouco. Me vejo pouco, me contorço pouco. Quando a vontade é fazer muito. Entregar muito. Nos vermos muito.

Rumores



E dentro do meu sistema colateral fico proposto no seu mundo enquanto o desalinhar do meu coração se contrai em proezas e linhas em que você exerce ao passar dos dias. Ao desnudar do seu corpo que me propõe em acertos, os arrependimentos não me dissecam a carne. Significado maior do seu sorriso, que se desune as minhas possíveis expectativas e comportam minhas esperanças. O trago no meu cigarro é mais um motivo para que você pare com essa excitante extripulia. O movimento do seu vestido, o barulho daquele seu sapato, e o roçar de suas pernas é um aviso de chegada depois daquele grande e passivo dia em que você insiste em dizer que foi prazeroso. Não vejo na de prazer em seus olhos. Não vejo prazer em suas palavras. Não passo de problema. Não sei o que deveria sentir. Não sei o que deveria. Me sustento de amor. Porque sou louco por você. E desse jeito eu morro de amores.

Mix Gardem



Tudo em sã consciência. Nada em seu devido lugar. O quadro está no chão, a tampa da privada levantada. Cabelos no sabonete, relação descontente. Motivos suficientes para eu passar da porta. Seus olhares intrigantes, meu sorriso forçado. Seus beijos secos dados com amor insuficiente. Enquanto você se preocupa com seus signos e o tal do inferno astral, leio a bula do tarja preta. Meu mar de dinheiro coagulado dentro de seus brincos, bolsas e todo afeto consumista que existe entre nós, é o que sustenta nossa insensata relação. Enquanto sonho em ser um segundo mais feliz, você se desagua em caras vitrines. Esbanja qualidade. Esbanja fortaleza. Enquanto nosso jardim seca, você decide com qual sapato sair. Enquanto eu me decomponho, você se compra dentro de cubículos que vendem quase todo o meu salário. Rasguei seus vestidos, quebrei seus brincos, entortei seus anéis. Quebrei todos. Tudo o que me lembrava você. Quebrei seus espelhos, esfarelei suas maquiagens e empilhei seus sapatos e ateei fogo. Tudo isso para você poder ver que o jardim lá fora não tem mais flores. E quem sabe um dia, você perceber que eram aquelas flores que sustentava o meu amor por você.

Amor? Parte II



Me contorço através dos meus planos e afazeres. Inquietante razão de estar só, me nega os olhos e me suicida o coração. Diante todo o sustento que não foram capazes de me recompor, perto daquilo que sonho viver. Talvez o novo não me agrade mais. Ou é o antigo que se tornou velharia. Só sei que prefiro o novo para esquecer o antigo, e prefiro o antigo para lembrar de quão melhor é o novo. Controvérsias à parte. Todo mundo algum dia se sente frio. Não por falta de cobertor, e sim por falta de coração. E se fosse para pedir algo, suplicaria alguém. Alguém com razões suficientes para me amar. Alguém que durma comigo, que sustente comigo os problemas e todos aqueles desafetos conjugais. Eu perco um pouco de mim, mas não perco você. Se você um dia aparecer, deixa sua marca no meu virol branco. E por favor, escreva de batom no espelho do banheiro. Quem disse que amar não envolve desespero?

Antigo e sem foco.


E no encontro de nós, passos em paralelos, encontram-se as palavras. O vento descobre as janelas, levanta os panos que ali encarnam em cortina. Revelam-se os rostos que ali estavam escondidos, quando se voltam e nos revelamos nos olhos, nos gestos, no que dizemos, no que resta e no que se junta na fadiga dos passos, juntamente com todos aqueles retrocessos de amor que ali existia. No desarranjo do meu corpo, e no empinar do teus olhos. No ritmo dos meus poros, e do batuque do coração. Diante todo o amor aqui descrito, é imperceptível o quão de ódio meus dedos juntamente com o meu corpo se retorcem. É imperceptível o quão traído eu sou. E hoje sou o que sou. Sou puramente tóxico. Infelizmente não venho com cartilhas de aviso. Problema de quem se envolve e desfaz. O vidro se joga fora, mas o veneno ingerido, não. Se tenho veneno e sou tóxico, o problema não é meu. É problema de quem me usa.

Amigos?


Os poros vomitam a força da raiva. Gelam-me as têmporas. O vento seca minha face e as lágrimas que nela escorrem, e escoam para o resto do meu corpo. As minhas lágrimas caem pela vontade do tempo de se revoltar. Uma fadiga ocupou o lugar do amor que eu sentia pelo resto que ainda me segurava e que eu um dia conceituei como amigos. E no decorrer das palavras cuspidas de qualquer forma. Estou cansado de segurar essa angustia que levo com um sorriso na cara, risos forçados e alegria. Cansei de enganar a mim mesmo e sempre mostrar que estou bem. Talvez para não mostrar um sinal de fraqueza. Não estou bem mesmo. Acho que pelo menos tenho esse direito. Tenho culpa eu se amo demais? Tenho culpa eu se sou amado de menos?

Dilemas e poemas



Os teus dilemas não são feito de soluções aceitáveis. Assim como seus poemas não são feitos de palavras. São desenhos em páginas brancas que curam meus olhos enferrujados. E o que o seu corpo molda, na clareza de seus movimentos esclarece os compêndios dos respectivo manuais das regras e da física. Complicada e oportuna. A cada beijo que trocamos, sabe-se o silêncio e goza-se o estalido dos nossos lábios umidecidos colando e descolando no final início de cada encontro. As memórias que restam são dos tempos de cama, de indizíveis gestos que sufocava. E do seu cheiro que me invadia e pemanecia como tinta indelével assinando minhas lembranças adicto ao passado.

Cortes e reparos


Estou cheio de grandes defeitos. De perigosas pretensões. Gloriosas oscilações. Enquanto tinha que tentar decifrar esse cofre que emperra e empaca minhas falhas. Ainda te quero como sempre quis. Estaria mentindo se dissesse que não te amo mais. Minhas marcas mostram o que sou, e o que deixei de ser. Me simpatizo com o rock, e você com jazz. Duas coisas parecidas. Dependendo de sua rédea. E desse amor invisível convivo suportando meu coração. Desse meu lado absurdo de tentar ouvir aquilo que não consigo. E me canso do nosso lado desconhecido demais.

Entre querer e um dia ter



Queria acordar e ver alguém entrelaçada com o lençol branco sujo de batom e vinho. Lembranças da noite passada. Queria receber mais do que tanto ofereci. Receber orações e saber que existe alguém apaixonada por mim. Compartilhar sonhos, entregar desejos, dividir rancores e suportar as dores. Encarar os problemas, enganar os problemas, superar os problemas. Amar. Se fosse tão simples, e tão fácil como as palavras descrevem escorridas por letras bem caligrafadas não estava aqui. Eu queria olhar no espelho e ver meu sorriso espontâneo. Sem forçar tanto. Sem o mínimo esforço possível. Tenho medos. E corro riscos. Tenho medo de perder tanta coisa que talvez nem são minhas. E de um dia perder o que tenho. É muita carência para pouco eu. Não necessito de um amor pronto. Não seria digno receber algo que não foi mérito meu construir. Queria alguém. Alguém que me ame com o coração. Sem ter que forçar. Sem o mínimo de esforço possível.

Sinceramente? Não sei.


E das várias coisas que ainda tenho que lhe pedir, e encarar com minhas duas faces pedirei o que der conta. Não me esqueça. Porque você não sai da minha cabeça. Não se afaste mais, porque eu senti o que você andava sentindo pelos cantos. Porque essa distância da nossa distância doeu. Abriu, sangrou, dilacerou , feriu e não se reconstituiu. Diante desse possível amor perfeito, hoje me entrego. Me entrego para você como me entreguei para todas as outras que de me desfizeram. Eu me dou a você para fazer o que quiser. Porque sem você eu não vivo. Não mais. Não sei com que olhos olhar, não sei com que pernas andar, e muito menos como mais irei pensar. Não sei com que razão vou agir, com que palavras vou omitir ou que emoção sentir. Não sei com que coração. Não sei. Depois de tudo o que fiz. E até do que não fiz. Será que tem como agora eu me decidir, implorar e pedir que você volte denovo para mim? Se cuida.

Amor?



Me incomodo vendo você aprumando seu cabelo que já arrumado. Tenho ciúmes desse seu batom em que você distrai escorrendo-o pelos seus lábios. Intrigo quando seu rosto bonito se desfaz quando pensa em algo passado que era eu quem deveria ter vivido. Me dói ter que esconder esse amor. E que quando tento pronunciá-lo com palavras, não passa da garganta que rapidamente se fecha me causando refluxo. Eu queria tanto um dia de fazer mais feliz. Queria, mas não posso. Não posso porque ainda não consigo. Teve uma data. Teve esse dia. Eu te queria e você nem sequer sabia.

Pra você. Em você



Andei pensando enquanto olhava. Pra você. Na verdade reparando. Em você. Nesses teus cabelos lisos com leves tons de amarelo, e nesse seu olhar brilhante. Não sei se de felicidade ou de intrigante tristeza. E me perder nos seus sorrisos enquanto sonho alto. Tão alto que é possível de se escutar. Dava tudo para saber no que estava pensando naquele momento enquanto contraia o rosto e me distraía. Me deparei com a escultura esculpida diante meus olhos. E quando você interrompeu o silêncio, pedindo para que um dia eu escrevesse algo sobre você, mal sabia que o que eu escrevera naquela aula era sobre algo tão bonito, em que descrevi o seu rosto, o seu sorriso, seus olhos e tudo aquilo que em você eu admiro além do que deveria admirar. Simples com um jeito estranho. Estranho bonito em que me encantei a partir daquele resto de dia. Se ao menos pudesse compreender, entender e fazer por merecer você, seria um pouco mais feliz.